sábado, 25 de outubro de 2008

Receita para alfabetização


Receita de alfabetização

Ingredientes:
1 criança de 6 anos
1 uniforme escolar
1 sala de aula decorada
1 cartilha

Preparo:
Pegue a criança, limpe bem, lave e enxágüe com cuidado. Enfie a criança dentro do uniforme e coloque-a sentadinha na sala de aula (decorada com motivos infantis). Nas oito primeiras semanas, sirva como alimentação exercício de prontidão. Na nona semana ponha a cartilha nas mãos da criança.
Atenção: tome cuidado para ela não se contamine com o contato de livros, jornais, revistas e outros materiais impressos.
Abra bem a boca da criança e faça com que ela engula as vogais. Depois de bem digeridas as vogais mande-a mastigar uma a uma as palavras da cartilha. Cada palavra deve ser mastigada no mínimo sessenta vezes. Se houver dificuldade para engolir separe as palavras em pedacinhos.
Mantenha a criança em banho-maria durante quatro meses fazendo exercícios de cópias. Em seguida, faça com que a criança engula algumas frases inteiras. Mexa com cuidado para não embolar.
Ao oitavo mês, espete a criança com um palito, ou melhor, aplique uma prova de leitura e verifique se ela devolve pelo menos 70% das palavras e frases engolidas.
Se isso acontecer: Considere a criança alfabetizada. Enrole-a num bonito papel de presente e despache-a para serie seguinte.
Se isso não acontecer: se a criança não devolver o que lhe foi dado para engolir, recomece a receita quantas vezes for necessário. Se não der resultado, ao fim de três anos enrole a criança em um papel pardo e coloque um rótulo: “aluno renitente”.

Alfabetização sem receita

Pegue uma criança de seis anos ou mais, no estado em que estiver, suja ou limpa, e coloque numa sala de aula onde exista muita coisa escrita para olhar, manusear e examinar.
Sirva jornais velhos, revistas, embalagens, anúncios publicitários, latas de óleo vazias caixas de sabão, sacolas de supermercado, enfim tudo o que estiver entulhado os armários de sua casa ou escola e que tenha coisas escritas.
Convide a criança para brincar e ler, adivinhado o que está escrito. Você vai descobrir que ela sabe muita coisa!
Converse com a criança, troque idéias sobre quem são vocês e as coisas de que gostam ou não. Depois escreva no quadro algumas coisas que foram ditas e leia para ela.
Peça à criança que olhe as coisas escritas que existem por ai, nas ruas, nas lojas, na televisão. Escreva alguma dessas coisas no quadro.
Deixe a criança cortar letras, palavras, e frases dos jornais velhos. Não esqueça de pedir às crianças que ela limpe a sala depois, explicando que assim a escola fica limpa.
Todos os dias leia em voz alta alguma coisa interessante: histórias, poesia, noticia de jornal, anedota, letra de música, adivinhação, convite, mostre uma nota fiscal algo que você comprou, procure um nome na lista telefônica. Mostre também algumas coisas escritas que talvez a criança não conheça: dicionário, telegrama, carta, livro de receitas.
Desafie a criança a pensar sobre a escrita e pense você também. Quando a criança estiver tentando escrever, deixe-a perguntar ou ajudar o colega. Aceite a escrita da criança. Não se apavore se a criança estiver “comendo” letras. Até hoje não houve caso de ”indigestão alfabética”.
Invente sua própria cartilha, selecione palavras, frases e textos interessantes e que tenham que ver com a realidade da criança. Use sua capacidade de observação, sua experiência e sua imaginação para ensinar a ler. Leia estude sempre e muito.
*Autora: Marlene Carvalho
Acho que esta mensagem traz muitas reflexões para os educadores, principalmente para aqueles que trabalham com a Alfabetização. Nossas crianças ao entrarem na escola vão construindo uma idéia de escolarização que muitas vezes leva para o resto da vida. Se esta entrada não for trabalhada a fim de deixar a criança mais a vontade, inserida em um meio que lhe proporciona mais atração e possibilidade de "diversão" e conhecimento, grandes problemas serão acarretados em relação à escola. Com a nova lei do Ensino Fundamental de 9 anos, as crianças estão entrando na escola um ano mais cedo, visto que poucas frequentam creches e escolinhas antes da entrada para o ensino regular. São muito pequenas e precisam ter a liberdade que um criança precisa nessa idade. Não precisa apenas de decoreba e represão. Precisa de ludicidade, de mostrar o que já sabe, de conhecer novas experiências e lançar-se no mundo letrado sem traumas!Com prazer em ler!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

15 de outubro... o que comemorar??

15 de outubro. Dia do Professor. O que comemorar?

Vejamos... O que se espera de nós e a realidade que temos:
Somos orientados e cobrados a dar aulas criativas, sair da rotina sempre, usar novas técnicas, planejamento perfeito, pesquisa, estar sempre em constante aperfeiçoamento, conhecer de perto tanto o seu aluno como a realidade ele vive, ensinar o aluno a pensar, a ser um cidadão crítico. Estar sempre de bom humor, ser amável, não aumentar o tom de voz, ter paciência, ser persistente, ser compreensível.
É isso que se espera de um bom professor. No entando para cumprir essas "exigências" o professor acaba se tornando uma peça única no mundo.
Como planejar, pesquisar, aperfeiçoar-se... se a caraga horária está sempre cheia, muitas vezes 60 horas semanais apenas dentro de sala de aula? Onde encontrar tempo?
Como conhecer de perto o seu aluno, a sua realidade, dar assistência, compreendê-lo... se muitos professores têm turmas enormes, os que trabalham por área chegam a ter centenas??
Como fazer os alunos pensarem, serem cidadãos críticos, se muitas vezes eles estão imersos em uma realidade que pouca perspectiva lhe proporciona? Como conseguir com que seus alunos façam uma reflexão séria, se o problema mais simples dele é a horário da merenda, pois não tem nada o que comer em casa, ou seu pensamento está no abusador de ontem à noite?
Como estar de bom humor, ter orgulho da profissão, se esta é uma das únicas que, por mais que se faça um bom trabalho, nunca se ganha uma promoção... pois as promoções que existem são os triênios, quinqüênios, que pouco dependem da qualidade do que se faz?
Como não perder a paciência, ser dócil, carinhoso, bem humorado, se muitas vezes a agressão (física e verbal) para com o professor é diária e a falta de respeito e educação já tem raízes muito anteriores à escola?
Além de tudo isso, se espera que o professor tenha um pouco de enfermeiro, para solucionar pequenos acidentes cotidianos, um pouco se psicólogo, para das o apoio e apontar alguns caminhos, e tantas outras profissões que se misturam com a nossa.
Como????
Pois o verdadeiro EDUCADOR consegue! Consegue fazer faculdade, arranja tempo para outras atividades, pesquisa, planeja... Ele consegue captar apenas em um segundo de convivência com o aluno, o que este realmente está precisando. ELE consegue mergulhar seu aluno em um mundo que, a princípio não parece ser seu, através de histórias e diversas estratégias que como num passe de mágica faz com que perceba que aquela história, é a história de sua vida e que precisa ser refletida mais vezes e mais seriamente. ELE consegue ter paciência, ouve muita coisa que não gostaria, mas quando SENTE as vibrações boas alcançadas, vale por uma vida, faz com que o gás seja recuperado todos os dias e que a compreensão seja sempre maior do que a revolta pelas coisas erradas que vê por aí.
Então, hoje devemos comemorar essa figura que está além da vã compreensão humana, pois seus esforços por uma nova sociedade são sobre-humanos. Hoje devemos comemorar por aqueles que ainda acreditam que a sua tarefa, apesar se todas as dificuldades, ainda vale a pena. Cabe-nos escolher ser ELE, o educador, ou apenas o professor... que apenas conta os minutos, os períodos, os dias, as horas... Como diria Mário Quintana: "Eles passarão, eu passarinho".

Termino a minha reflexão com esta mensagem, que diz tudo sobre a educação nos dias atuais:

"O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudí-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo."

Carlos Drummond de Andrade