sábado, 29 de maio de 2010

Aprendi no jardim de infância

"Tudo o que hoje eu preciso realmente saber, sobre como viver, o que fazer e como ser, eu aprendi no jardim de infância.A sabedoria não se encontrava no topo de um curso de pós-graduação, mas no montinho de areia da escola de todo o dias. Estas são as coisa que aprendi lá:
  • Compartilhe com tudo.
  • Jogue dentro das regras.
  • Não bata nos outros.
  • Coloque as caixas de volta onde pegou.
  • Arrume a sua bagunça.
  • Não pegue as coisas dos outros.
  • Peça desculpas quando machucar alguém.
  • Lave as mãos antes de comer.
  • Dê descarga.
  • Biscoitos quentinhos e leite frios fazem bem para você.
  • Respeite o outro.
  • Leve uma vida equilibrada, aprenda um pouco, pense um pouco... e desenhe... e pinte... e cante... e dance ... e brinque... e trabalhe um pouco todos os dias.
  • Tire uma soneca todos os dias.
  • Quando sair, cuidado com os carros.
  • Repare nas maravilhas da vida.
  • Lembre-se da sementinha no copinho plástico. As raízes descem a planta sobe e ninguém sabe realmente como ou porque, mas todos somos assim.
  • O peixinho dourado, o hamster, o camundongo branco, e até mesmo a sementinha no copinho plástico, todos morrem... Nós também.
  • A regra de ouro é o amor e a higiene básica. Ecologia... política... e igualdade... e respeito... a vida sadia.
  • Temos que fazer a nossa parte.
  • E esta é sempre uma verdade, não importa a idade:"Ao sair para o mundo é sempre melhor darmos as mãos e ficarmos juntos."

Há alguns anos escutei esta mensagem ser narrada pelo Pedro Bial, e esta semana enquando tinha coma conversa bem séria com a mãe de um dos meus alunos, falando para ela a importância que tem a modificação de comportalento para melhor se faça cada vez mais cedo, lembrei de vários tópicos que a mensagem traz. Depois, quando voltei para a sala de aula, realmente refleti que tudo aquilo que eles estão aprendendo ali é a base que poderá ser vista anos e anos depois.

Piaget, em Pedagogia da automonia coloca que: "A construção ou a produção do conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de “tomar distancia” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo, de cindi-lo e de “cercar” esse objeto ou fazer a sua aproximação metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar. " Creio que estas ações quando estimuladas desde cedo, justamente no Jardim de Infanância, dificilmente se apagarão com o tempo, levando também em consideração o fato de que essa curiosidade é característica que tem se perdido com o passar dos anos. Além do Jardim, leciono também para um terceiro ano no turno da tarde, e vejo que dependendo do trabalho que se faz, os alunos chagam totalmente desestimulados a essas séries. Então minha responsabilidade como professora de Educação Infantil acaba sendo cada vez maior, estimulando a sua curiosidade pelo mundo, a sua autocritica e a capacidade de cooperação.

Certamente, se todas as pessoas da nossa sociedade cultivassem os ensinamentos plantados na Educação Inafntil, o mundo seria um lugar bem melhor para se viver.

domingo, 9 de maio de 2010

Professor também é um pouquinho mãe!

"Na tentativa de buscar imagens, metáforas, enfim, elementos que possam auxiliar na composição da função do professor em sala de aula, penso ter encontrado na teoria do inglês Winnicott uma possibilidade.
Donald Winnicott foi pediatra e psicanalista (1896-1971) e estudou os estágios mais primitivos do desenvolvimento emocional do ser humano. Para ele, o bebê só existe como parte de uma relação, na condição de absoluta dependência da mãe. Sendo assim, o ambiente tem uma influência determinante sobre a constituição do psiquismo precoce.
Pensando nas qualidades que a mãe precisa ter para proporcionar ao filho os cuidados indispensáveis ao seu desenvolvimento, é que Winnicott concebeu o conceito de “mãe suficientemente boa”, que compreende a condição em que a mãe possua a disponibilidade e os elementos necessários para acompanhar o filho em suas necessidades mais primitivas e básicas. Ela não precisa ser perfeita. Basta que atenda ao filho de forma rotineira, mas flexível. Digamos que a mãe suficientemente boa é monótona, pois ela cria um ambiente previsível, que responde às necessidades do bebê, proporcionando a ele uma situação de continuidade, importante para a formação e o fortalecimento da segurança, da confiança e, principalmente, para a integração corpo e mente. No início da vida e durante algum tempo, o bebê não reconhece o outro, porque está fusionado à mãe.
Outro conceito ligado ao de “mãe suficientemente boa” é o de “holding”, que se traduz na idéia da “sustentação das condições básicas para que o bebê viva suas experiências físicas e psíquicas, sem perigo”. Mas o conceito não significa que a mãe não possa falhar, pelo contrário. O que importa é que não ocorram falhas que invadam e quebrem, de forma violenta, a linha de continuidade que o bebê vinha experimentando, de forma a provocar nele “fantasias de aniquilamento”.
A relação intensa e necessária entre mãe e filho, expressa no conceito de “mãe suficientemente boa”, de Winnicott, é uma relação de humanização e é comum a cada um de nós. Não há como fazermo-nos humanos sem a existência e a presença atenta de alguém. O colo, o olhar, a palavra, a preocupação vão construindo os primeiros significados, livrando-nos de nossa insignificância original, além de reafirmar nossa existência. O olhar do outro reconhece a nossa existência. E, justamente porque dependemos imensamente disso tudo que vem do outro, é que temos medo. A convivência social é dolorosa, porque é importante demais.
Se nesse momento inicial da vida tudo corre suficientemente bem, a criança pode evoluir no seu crescimento. Então, gradativamente, a mãe pode ir se distanciando, rompendo aos poucos os laços fusionais e introduzindo os elementos da realidade, assim como outras pessoas no ambiente.
Durante toda a infância, outros estágios virão até que a entrada na adolescência provocará um questionamento e uma revisão de todos os valores, preparando o jovem para os rompimentos necessários a sua inserção no mundo adulto.
A entrada da criança na escola tem acontecido cada vez mais cedo. Se tempos atrás era somente por volta dos cinco anos, agora tem ocorrido aos dois anos, muitas vezes até antes disso. A distância que separava a escola da família foi encurtada. As funções da escola vêm sendo modificadas no sentido de uma maior responsabilidade sobre seus alunos. Funções que antes competiam à família hoje são delegadas à escola.
E o professor vem lutando para sustentar sua posição de autoridade, abalada pelo estremecimento de convicções e valores que acompanha nossa entrada no século XXI.
O professor tem hoje a importante responsabilidade de receber a criança que chega marcada pelo rompimento causado pelo afastamento precoce do núcleo familiar, ao separar-se dos pais.
E, pensando em Winnicott, tentei imaginar como seria o professor suficientemente bom.
Como substituto que é da família, o professor suficientemente bom seria aquele que, nos primeiros anos, forneceria uma espécie de holding ou sustentação à criança, criando uma condição de rotina necessária à sua adaptação à nova experiência, que se inicia no ambiente escolar. Ele trataria de oferecer à criança uma presença viva, preocupada, atenta e amorosa e, principalmente, constante, que seria muito importante para a estruturação de sua imagem como referência segura. A relação aqui também seria, ainda, de dependência. A criança contaria com o professor para lhe garantir a percepção de que ali está alguém que detém um saber e uma autoridade fortes o suficiente para que ela sinta que pode se entregar, passivamente, aos seus cuidados. A força desse saber e dessa autoridade remeteria a uma impressão de firmeza que possibilitaria à criança tolerar os embates e as dores da convivência. Nesse contexto, o professor deveria entender que “disciplina” é um conceito extremamente relativo e que depende principalmente do que ele espera de seu aluno, dosando, portanto, o grau de liberdade que a ele se poderá proporcionar, de forma que lhe seja garantida a expressão de seus afetos, sejam de amor ou de ódio, sem o risco de respostas radicais e repressoras.
O professor deveria, ainda, ser capaz de tolerar o mal-estar inerente ao processo educativo, cuja dimensão extremamente abrangente provoca sempre frustração e põe à prova, o tempo todo, a persistência necessária ao sucesso.
Assim como a mãe, o professor também falha, e isso lhe conferirá uma condição de humanidade importante para que a criança aprenda a superar suas decepções e continuar sua vida apesar delas. Ao mesmo tempo, essas falhas não podem ser tais que cheguem a derrubar o professor da importante posição de representante do saber e da cultura. A criança, o aluno em geral, precisa dessa referência, por mais que isso lhe exija certas responsabilidades. Se o adulto abandonar seu papel, seu “lugar”, provocará na criança, certamente, um grande desamparo e um conseqüente desequilíbrio, tornando-lhe mais difícil o desafio que será feito, mais tarde, de encontrar, por sua vez, também o seu “lugar”, para que possa desempenhar o papel que lhe couber.
É de se esperar, à medida que o aluno cresce, que a relação de dependência estreita dê lugar a uma dependência mais relativizada, dando surgimento a um espaço de troca e também de mais criatividade e liberdade.
Talvez o conceito de suficiência provoque interrogações, pois não oferece parâmetros objetivos e precisos. O que é suficiente? Claro, temos aqui, na relação entre o professor e o aluno, uma situação muito complexa, que exige, por isso mesmo, constante atenção quanto às intensidades com que as atitudes, iniciativas e decisões precisarão ter para serem efetivas na promoção do desenvolvimento humano das crianças. Mas penso que o conceito é válido, pela desacomodação que gera, e pelo cuidado que sugere, a fim de que, qualquer que seja a nossa posição, ela esteja sempre procurando afastar-se dos extremos; exigindo-nos, enfim, um trabalho mais orientado pela intuição, pela sensibilidade e pela flexibilidade.
Espero que a articulista tenha sido suficientemente instigadora para provocar no leitor o desejo de pensar mais sobre isso tudo."
Élide Camargo Signorelli, psicóloga com formação psicanalítica pelo C.P.CAMP, Centro de Psicanálise de Campinas, e especialização em adolescência pelo Departamento de Psiquiatria da FCM da UNICAMP
Com a passagem do dia das mães, achei muito pertinente trazer este texto que estudei na minha outra Faculdade semestre passado!O texto fala por si só, mas segue alguns pensamentos meus em relação ao assunto, apenas para complementar.
Penso que mãe e professor se ligam de uma forma muito concreta na vida da criança, e a dança de um suprindo as lacunas do outro é mais comum do que imaginamos. Quantas mães ensinam seus filhos em casa, aquilo que por inúmeros motivos não foi possível contemplar em aula? E mais comum ainda é o professor estabelecer um vínculo tão forte com o aluno, que por vezes a criança sonha em não ir para casa... e ficar sempre com a professora. Em sala de aula, as necessidades que atendemos com certeza ultrapassam os conteúdos, e fazem com que sejamos peças fundamentais para a construção da identidade dos nossos alunos. Professores e mães suficientes, na minha opinião, são aquelas que juntas cumprem a sua parte para que a criança, que é realmente quem interessa, obtenha sucesso em sua vida como um todo, tendo em quem confiar!